Análise: Hotline Miami – por Thiago Cianci

Confesso que já tinha ouvido falar bem de Hotline Miami quando iniciei o jogo pela primeira vez. Mesmo assim, não acredito que pudesse estar preparado para a experiência oferecida pelos desenvolvedores Jonatan Söderström e Dennis Wedin. A premissa de Hotline é bizarra, mas relativamente simples: um homem é chantageado constantemente por meio de telefonemas que o direcionam a locais específicos com um objetivo, o de vestir uma máscara de borracha e matar todos os indivíduos que se encontram lá.

O gameplay, a princípio, reflete a simplicidade da premissa. O jogador se movimenta com o teclado, pega armas e as arremessa com o botão direito do mouse, enquanto ataca com o esquerdo. Cada capítulo consiste em um edifício repleto de homens armados que conseguem derrotar o protagonista com apenas um golpe, ou tiro. Perder, no entanto, praticamente não afeta o jogador. Você retorna do lado de fora do edifício, pronto para outra tentativa. A repetição é essencial para completar cada fase, pois os inimigos são implacáveis.

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Entre as missões, o jogador ainda deve executar tarefas mundanas e redundantes, cujo efeito é fazê-lo desejar voltar imediatamente para dentro dos edifícios, para a mais pura violência. Esse mesmo recurso é utilizado com maestria por Goichi Suda (ou Suda51), em Killer7, para o GameCube, e No More Heroes, para o Wii. Esse último, em particular, é um jogo que lida muito com a violência de uma forma similar ao Hotline, estilizando-a ao extremo por motivos incrivelmente irônicos e críticos. Embora as mensagens de ambos sejam um pouco diferentes, o caminho escolhido é o mesmo.

O grande mérito do jogo está em como ele consegue, através de sua trilha sonora, jogabilidade e design, transmitir uma mensagem incrível. Cada aspecto desses três fatores contribui para que você se sinta cada vez mais estimulado a cometer suas atrocidades. Cada gângster pixelado que cai no chão vale pontos, que são computados na hora, enquanto uma música empolgante toca,  motivando-o a conseguir uma pontuação mais alta. Mas quando os assassinatos terminam, a música cessa. O que resta é um edifício cheio de cadáveres e sangue, silencioso, que o jogador tem que percorrer novamente para poder chegar à saída. Nesse momento, as mortes deixam de ser um jogo e começam a incomodar. O primeiro presságio de que “Hotline Miami” pode ser mais do que aparenta.

Não falarei muito mais sobre o diálogo genial entre a ludologia e a narrativa para não estragar a experiência de futuros jogadores. Ainda assim, é importante ressaltar que esse é um dos seus pontos altos. Nada impede alguém de encarar o jogo com levianidade. É natural levá-lo ao pé da letra e se divertir com as carnificinas realizadas. No entanto, os criadores te desafiam a procurar o que está escondido por trás do banho de sangue, figurativamente e literalmente. Prestando atenção, é possível descobrir muito mais sobre o jogo e a própria história que ele conta. Após jogá-lo diversas vezes, e enquanto escrevo esse artigo, o que mais me vêm à cabeça é a pergunta que um personagem faz ao protagonista no início da segunda parte do jogo:

“Você gosta de machucar outras pessoas?”

Ludologia: A área de conhecimento que estuda o lúdico e suas manifestações.

Autor: Thiago Cianci

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